O café especial é produzido por vários processos. Inclusive, os produtores mais experientes acreditam que a bebida de qualidade é resultado de uma série de coincidências, por exemplo: terroir, cultivo, manejo, colheita, processos e pensamento especial. Assim, o café suspenso é um desses caminhos.
O processo consiste na secagem dos grãos e também é conhecido como cama africana. Em resumo, trata-se de uma estrutura elevada, que impede que o café tenha contato com a poeira. Dessa forma, os grãos são preservados com uma das principais boas práticas do café especial.
A técnica de café suspenso surgiu na África, berço do café e origem da iguaria amada em todo o mundo. Na verdade, não existem relatos oficiais em relação ao surgimento do método, mas especialistas apontam que a proposta foi pensada pelos produtores etíopes a fim de aumentar a qualidade do café.
Essa iniciativa aumenta a circulação de ar entre os grãos e ajuda na secagem, assim como contribui para doçura, delicadeza, notas sensoriais e equilíbrio da acidez da bebida na xícara. Além disso, a pós-colheita do café suspenso evita fermentações indesejadas.
Qualidade do café suspenso
Na cama africana, os grãos podem ficar expostos ao sol ou à sombra, com uma espécie de estufa. Na Fazenda Primavera, propriedade que ganhou destaque nos últimos anos pela sustentabilidade de processos, o café campeão do mundo contou com esse modelo de secagem.
A variedade Geisha levou o título de melhor café do mundo em 2018, pelo Cup of Excellence. A responsável pelo critério de pós-colheita é Maria Rita Batista, ou, simplesmente, Ritinha. Os sorrisos e a cantoria dão o tom do que é a vida no café. O jeito de falar tem entonação de música, com a sonoridade do sorriso emendado em cada palavra.
Critério Primavera do café especial
Basta passar algumas horas na fazenda para observar o posicionamento de Rita no cantinho do café suspenso. Ela é toda orgulhosa do espaço, que protege e não admite intromissões, tanto que o cuidado em cada etapa é explícito: ela conta aos risos que olha para o café, mexe e não “arreda” o pé de lá.
Aliás, Ritinha não esconde o apego: “eu panho café há muitos anos, mas a promoção para o setor de Qualidade veio pelo trabalho na lavoura”, conta. O esforço merecido veio como reconhecimento de quem coloca carinho e prazer em cada detalhe.
Para se ter ideia de todo esse preciosismo, é preciso levar os grãos em baldinhos (literalmente) até a estrutura do café suspenso. Depois disso, ainda é necessário esperar cerca de 30 dias até que os grãos estejam bem secos.
Contudo, durante esse intervalo, a pessoa responsável pela Qualidade, que na Fazenda Primavera é a Ritinha, tem a tarefa mexer o café e checar a temperatura. O resultado de todo esse trabalho surge na hora de tomar café, com notas sensoriais muito claras.
A construção social com o “caffè sospeso”
Entretanto, o termo café suspenso não se refere apenas ao modo de secagem. Inclusive, o documentário da Netflix mostra uma tradição italiana conhecida como caffè sospeso. Inclusive, se você quiser saber mais sobre essa trajetória, na Netflix, o documentário explica muito de todo esse processo.
A produção é italiana, conta com uma fotografia potente e está entre os diamantes escondidos na plataforma. Por isso, fica o convite para você viver a imersão no mundo do café a partir de um roteiro construído com maestria. A proposta explica a prática de oferecer um caffè sospeso, surgido durante a Segunda Guerra Mundial.
O foco do gesto gentil nasceu com a finalidade de amenizar o caos daqueles tempos. A proposta italiana consiste na gentileza de deixar um café pago para aquele cliente sem condições financeiras. Obviamente, o convite espera honestidade de quem aceitar o cafezinho e é um jeito de “fazer o bem sem olhar a quem”
Filme mostra construção social do café
O documentário mostra os detalhes da sintonia convidativa de uma das bebidas mais populares do mundo, entre pessoas completamente diferentes. A trajetória de uma mulher trans, um escritor famoso e uma pessoa que foi presa em processo de reabilitação social em busca do sonho.
Tudo isso é guiado pelo perfume de bons cafés e pelo resgate de memória afetiva para a motivação social de cada um. Ficou curioso? Confesso que eu também, por isso vou mergulhar na imersão dos personagens com um bom café de verdade.
Café especial no terreiro suspenso
Aliás, o convite de hoje é para a companhia dos grãos que passaram pelo processo de café suspenso na secagem, o que potencializou as notas sensoriais. Tudo isso com vivências particulares que apenas o capricho no processo do café especial pode proporcionar.
Na escolha, você pode optar pelo microlote do Homero Paiva, com aroma de erva-doce e notas sensoriais de frutas vermelhas, por exemplo. O que acha? Venha conhecer melhor este café e o resultado de um pós-colheita bem conduzido.